Um pouco por acaso ficamos a saber que numa das nossas cidades vizinhas, Thil, tinha havido um campo de concentração. Após uma breve busca, a constatação de um facto algo perturbador: a uns meros 5kms de distância da nossa actual residência, num local hoje composto por um imenso vale verdejante rodeado de belos arvoredos, existiu, há quase 70 anos, um campo de extermínio nazi. Na Junta de Freguesia local ofereceram-nos um dossier com cópias de diversos documentos importantes. Lá explicam que o estado-maior da Luftwaffe escolheu aquela localidade para a construção de uma fábrica subterrânea ultra-secreta, aproveitando as instalações de uma exploração mineira. Mantidos em condições terríveis em campos de reclusos nas regiões vizinhas, os prisioneiros que lá trabalhavam eram levados de comboio e entre eles contavam-se também cidadãos portugueses. A ocupação daquele espaço durou entre 1940 e 1944 e comportou mais de 3500 detidos. Quando a mão-de-obra começou a escassear, as forças nazis decidiram construir um campo de concentração perto da fábrica e “recrutar” judeus de outros campos. Lá estiveram 861 pessoas em cativeiro. Em 1946 o município de Thil decidiu criar uma cripta em memória de todos os que lutaram pela liberdade, construída no local exacto onde se encontrava o forno crematório utilizado pelos nazis para reduzir os mortos a cinzas e assim eliminar as provas da sua existência.
Depois de atravessarmos um pequeno túnel, vindos do centro da vila, uma tabuleta com a frase «Não Esqueceremos Nunca» aponta para o espaço onde foi construída a «Nécropole Nationale de Thil». Pelo caminho, estátuas criadas por vários artistas da região. No interior da cripta, pedaços da história que mais marcou o Velho Continente no século passado. Uma maqueta do antigo campo de concentração, uma farda original de um prisioneiro de um campo de concentração, um pote com cinzas provenientes de outro campo de concentração (em Buchenwald), um esquema do engenho voador não tripulado «V1» (uma enorme bomba, com a forma e o tamanho de um avião, designado pelo III Reich como «projéctil de longa distância e de destruição massiva»), um forno crematório e uma caixa em vidro com pedaços de ossos recuperados do seu interior.
À saída, observando o imenso vale e lembrando as historias lidas, ficamos a pensar como teriam sido esses tempos. Onde hoje passeamos em liberdade, há 70 anos vivia-se um tormento impossível de quantificar. Foram nestas estradas, nestes campos, nestas ruas, nestas casas, nestas pedras da calçada que demónios vestidos de gente assombraram as vidas de milhões de inocentes (05-04-2011).